O dia em que Nova York se debruçou aos pés de Ivete Sangalo no show mais espetacular e aplaudido de um artista brasileiro na meca dos espetáculos
Momentos no Madison Square Garden: Ivete no palco, a caixa de presente, a despedida do show suspensa por balões e o choro emocionado de quem saiu de Juazeiro do Norte e conquistou Nova York. |
A profecia se concretizou. Na quarta-feira 1º, o New York Daily News, estampou uma ampla reportagem sobre a cantora morena que há dez dias era vista na foto da gigantesca entrada do mítico Madison Square Garden: “A não ser que você seja brasileiro, Ivete Sangalo é provavelmente a maior estrela de que você nunca ouviu falar. Mas isso esta prestes a mudar”. Na noite de 4 de setembro, quando Ivete pisou no palco da arena do Madison – mesmo palco do lendário encontro entre John Lennon e Elton John, em 1974, e da luta entre Muhammad Ali e Joe Frazier, em 1971 – essa história de fato começava a mudar. “Ela é uma estrela e tem uma música contagiante”, disse Elizabeth Moore, garçonete do ginásio ha cinco anos, entusiasmada com a baiana. Com 23 minutos de atraso, Ivete abriu o show cantando “Brasileiro” com um exuberante cocar na cabeça, tendo ao fundo a bandeira do Brasil. A plateia veio abaixo. Ivete para, respira fundo e olha em volta como se reconhecesse cada um ali. “O que vocês estão sentindo é o que eu estou sentindo”, resume. Atravessa a passarela seguida pelos dez bailarinos vestidos como membros de uma tribo africana e antes de cantar “Dalila”, dispara mais uma declaração emocionada: “Só quero que vocês sintam orgulho de mim. E depois desse show vocês sentirão”. Capacidade máxima esgotada, com 14.500 ingressos vendidos. Cerca de cinco mil fãs viajaram do Brasil apenas para o show, além dos brasileiros residentes em Nova York, expatriados saudosos, convidados da cantora e da TAM, patrocinadora do evento, e uma minoria americana e hispânica. Mas era a proporção esperada. Afinal, foi assim também no histórico show de João Gilberto no Carnegie Hall, em novembro de 1962. E era o nascimento da bossa nova.
Euforia
Ivete não estava ali para inventar nenhum novo ritmo. Mas embora já tenha dito que o show de gravação de seu DVD no Madison não tem a intenção de ser a alavanca de sua carreira internacional, os indícios do contrário estavam todos lá. O espetáculo teve investimento de R$ 5 milhões, com equipe técnica e de produção 100% americana. O diretor Nick Wickham, por exemplo, é o mesmo dos shows de Beyoncé e Madonna. E a iluminação teve a assinatura de Patrick Woodroff, que fez This is It, o derradeiro espetáculo de Michael Jackson. Ivete fez a sua parte. A performance técnica era a de uma profissional acostumada a grandes produções, mas o jeito e o carisma tinham o DNA de cantora popular criada no calor dos trios elétricos. “Vou ter de falar inglês porque é mais chique”, e mandava a plateia “tirar o pé do chão”. Assim bem micareta. “Vou botar pra f...!”. Sem dúvida, era Ivete em palco gringo, sem freios, com sua eterna irreverência e borogodó baianos. O figurino abusou dos 25 quilos recentemente perdidos após o nascimento de Marcelo, seu filho de 11 meses. Shorts curtíssimos, fendas, decotes, extravagância com forte pegada latina. “Dou you know what periguete means?” provocou, rebolando ate o chão. Ela está podendo. Ivete fez bonito ao lado de Nelly Furtado, com quem cantou "Where it Begins". A canadense é afiada e simpática, mas errou no macacão justíssimo para suas formas avantajadas.
Quando cantou “Me Abraça”, que marcou o início da carreira dela na banda Eva, Ivete parou e se dirigiu aos fãs com a voz embargada. “Me desculpem, não consigo.” A plateia se dividiu entre aplausos e lágrimas. Choro nas arquibancadas e na ala vip. A atriz Fernanda Paes Leme e a modelo Fernanda Motta fizeram coro aos olhos vermelhos. Preta Gil, amiga de Ivete, era uma das mais emocionadas. Ana Maria Braga mandava beijos de onde estava. Na ponta do palco, a cantora viu e retribuiu. O hit “Eva” fez a temperatura subir de novo e Ivete arrancar e lançar longe a sandália de salto alto. Correu descalça pela passarela segurando o vestido longo com aplicações douradas. Nada que escapasse aos olhos das 19 câmeras espalhadas no estádio, uma delas, aliás, usada em corridas de Fórmula 1. Recurso necessário quando se trata de Ivete e seu jeito imprevisível de se movimentar no palco. Quando soube por ela que não haveria marcações, Nick Wickham disparou: “Virei de tênis”.
Foi empolgante o momento da gigantesca caixa de presente descendo na boca de cena. Já se imaginava que Ivete estaria ali, mas a surpresa foi o piano, executado por ela e a canção “Easy”, de Lionel Richie. Momento romance e pausa para o respiro para o segundo tempo do “carnaval”. Na ala vip, o diretor de arte Giovanni Bianco sambava como se o mundo fosse acabar amanhã. Ao lado de Ticiane Pinheiro, o publicitário Roberto Justus também dançou.Quando o repertório de surpresas parecia ter se esgotado junto com as três horas de show, a chuva de papéis coloridos anuncia a apoteose. Ivete se despede içada por cabos de aço e balões em formato de coração. Voa sobre o palco do Madison Square Garden. Do fosso, Jesus Sangalo, irmão e empresário da cantora sorri, aplaude e resume o significado da mais ousada investida na carreira da baiana de Juazeiro do Norte: “É muita sorte”, simplificou. É mais: é muito talento.
Agito depois do show
Apagadas as luzes do Madison Square Garden, convidados vips rumaram para o club Lavo, no East Side, para a festa pós-apresentação oferecida pela TAM e por Ivete. O evento parou a rua. O club abriu especialmente para a festa. Passava da uma da manhã quando Ivete chegou com o marido, Daniel Cady. No maior bom humor, ela foi direto para o cercadinho vip, com várias paradinhas no caminho para fotos e carinhos. “Estou feliz, realizada e emocionada.” A noite era dela. E assim foi.
0 comentários:
Postar um comentário